sábado, 29 de setembro de 2018

HOMO AUTOMOBILE





                                        Esse é um Dauphine 1967


Esta não é a história de um PITHECANTHCANTROPUS ERECTUS,  nem de um HOMO HEILDELBERGENSIS, nem de um EOANTHROPUS, nem de um HOMO RHODESIENSIS, nem tão pouco de um convicto HOMO SAPIENS. Esta é a história de um  HOMO AUTOMOBILE.




Comprei um carro e aumentei meu corpo,
O carro passou a ser o meu prolongamento:
Eu xingo, grito, e agrido por ele
O carro não é mais carro, o carro também sou eu
Eu ando com duas pernas e quatro pneus,
Eu me alimento com comida e gasolina,
Eu tenho sangue e óleo,
Coração e motor,
Pulsação e bateria,
Estômago e porta-mala
Fezes e  graxa...
Eu ando com duas pernas e quatro pneus,
Sou um "homo automobile" !
Se baterem nele  é como batessem  em mim.
Brigo !
Perco a vida nele e por ele.
Pago imposto de renda por mim e licenciamento por ele
Incrustamo-nos, somos um só.
Tenho nome e marca,
Tenho olhos e faróis,
Tenho membros e suspensão.
Tenho rins e carburador,
Tenho pulmões e pistões.
Eu ando com duas pernas e quatro pneus
Sou um  ! "homo automobile" !
Levanto , saio, e volto com ele.
Esposa?
Filhos?
Eles são complementos !...
O carro é fundamental,
Vivo mais nele que em casa,
É quase que meu corpo fora de mim.
Lavo, enxugo...
Levo ao médico-mecânico,
Levo ao cirurgião plastico-funileiro...
Ele é minha extensão !
Eu ando com duas pernas e  quatro pneus
Sou um "homo automobile" ,
Sou invenção da minha  raça,
Eu surgi no progresso massificado,
Sou um "homo automobile"...
Gente e carro,
Corpo, alma e lataria,
Sou um misto de criação divina
E invento demoníaco do século XX.
Sou um "homo automobile"
E para voltar a ser o que era
Eu preciso progredir espiritualmente.
Mas meus conhecimentos estão no
             Jardim da infância,
Por isso continuo sendo
Um tolo e confuso "homo automobile" !


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Esse testo foi escrito em 1973 por Neimar de Barros em seu livro   DEUS NEGRO .

Ele explicou o porque do título Deus Negro:

Porque talvez  Deus  apareça mancando para os que tiveram ojeriza de aleijados,
 talvez apareça  raquítico para os que riram dos físicos fracos, talvez apareça  ne-
gro para os  racistas.



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Postado por : Prof. Augusto Amoroso de Lima, aposentado da Pesquisa Cientifica e Tecnológica da Secretaria da Agricultura e Professor de História e Sociologia aposentado.

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