Feijão,cebola e gordura ajudam, mas o forte é a pedra...
O homem que das pedras fazia sopa
Heroi sem caráter, esperto, trapaceiro e simpático, protagonista de antigas fábulas ibéricas, Pedro Malasartes saiu da moda. Só as pessoas mais velhas lembram das peripécias do personagem imaginário que por muitos séculos divertiu crianças e jovens em Portugal , Espanha e terras colonizadas pelos dois países.
No Brasil, falou-se em Pedro Malasartes no primeiro livro infantil nacional, Contos da Caronchinha, de 1894, escrito por Figueiredo Pimentel. Poderia ter caído no ostracismo, não fosse o socorro de Mazzaropi, que o representou no filme As Aventuras de Pedro Malasartes, de 1960; de Renato Aragão que lhe dedicou um programa especial na T.V. Globo em l998; e de Ana Maria Machado, que o recontou no livro Histórias à Brasileira. Ninguém lembraria por ex. da antológica sopa de pedra inventada por ele.
Luis da Câmara Cascudo no dicionário do Folclore Brasileiro (Globo Editora- 2.000) descreve-o como "o tipo feliz da inteligência despudorada e vitoriosa sobre os crédulos, os avarentos, os parvos, os orgulhosos, os ricos, os vaidosos, expressões garantidoras da simpatia pelo herói sem caráter"
Diz também que a mais antiga referência lusitana a esse legitimo representante da literatura picaresca se encontra no Cancioneiro da Vaticana, do século 16 "Chegou Payo de maas Artes..." Na Espanha onde aparece em um documento do século 12 , chamam-no Pedro de Urdemalas , no Chile e México vira Pedro Urdemales; Na Argentina, Bolivia, Paraguai, Peru e Venezuela é Pedro Rimales.
Em todos os lugares inventa a sopa de pedras , exceto em Portugal, onde trocam nessa fábula por um frade de uma, ordem que, proibida de ter bens, obrigava os religiosos a viverem da caridade alheia.
Vamos então a famosa sopa:
Cansado e faminto, Malasartes bateu na porta da casa de uma mulher avarenta. "Consiga-me alguma coisa para comer", implorou. O galinheiro estava cheio, a horta repleta , o pomar carregado , porém ela
. respondeu não ter nada. "Sendo assim. vou fazer uma sopa de pedra", disse Malasartes. Então pegou uma pedra no chão e lavou bem. Depois pediu uma panela de barro e um fogão para cozinhar. "Oras essas coisas eu tenho admitiu a mulher.
Malasartes acendeu o fogo , colocou a pedra na panela, encheu-a de água e quando começou a chiar, provou a "sopa". Está ótima mas ficaria melhor se tivesse um pouco de gordura avaliou.
A mulher trouxe um pedaço de toucinho. A seguir solicitou orelha de porco, depois morcela, sal, feijão-mulatinho, batata, couve, coentro e pimenta-do-reino, sendo atendido . Preparada a sopa , ofereceu um prato a mulher que a adorou. Na panela restou apenas a pedra, Malasartes a lavou novamente e guardou-a no bolso. Carrego-a comigo para fazer outra sopa outro dia em que precisar enganar outra velha boba, explicou. Saiu disparando..
Em Portugal, a sopa de pedra é levada a sério. A cidade de Almerim, no Ribatejo, a 70 quilometros de Lisboa, transformou-a em atração turistica. Quase todos os seus restaurantes a preparam.
Source: Dias Lopes
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